À vontade...o prazer é nosso!

... Afinal, na vida só há espaços verdadeiros para cores, dores, amores...e muitos devaneios.































































quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Enferma


O quarto estava sob a penumbra; a cama com alguns lençóis amassados abrigava seu corpo frágil, e seus olhos tristes e amarelos fitavam a vidraça embaçada pela chuva fria de um inverno fora de época.
Ela estava pálida, com as mãos tão magras que causavam um certo horror a quem se aproximava...
Ela não suportava mais aquela "romaria" com tantas teorias e nada de soluções...então resolveu desistir.
E depois de tantas viagens, tantos portos que ela apenas observou e jamais ancorou...permaneceu ali por muitos e muitos dias, apenas fitando aquele céu cinzento, com seu corpo emagrecido estendido na cama, enquanto sua alma sentia cada gota da chuva fria que caía embaçando a vidraça...

sábado, 6 de novembro de 2010

Em Poucas Palavras


...é que de repente o céu se abriu...mas ela não viu estrelas, nem mesmo a beleza do firmamento...viu o imenso abismo que aquele sonho lhe deixou n'alma...
É que nem sempre as coisas saíam como ela desejava e seus céus eram como era sonhava...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Liberdade Indesejada


Enquanto todos pensavam que ela estava em mais uma das suas tantas viagens, ela acordava todas as manhãs no mesmo porto...
Antes de se levantar, olhava para o lado e o via despertar sempre com um sorriso nos lábios, os cabelos esvoaçados e um bom humor que para ela sempre soava como uma deliciosa novidade matinal.
Durante muitos dias ela aquietou-se ali sem que houvesse nada que desejasse mais para sua vida do que a tranquilidade e a segurança que aquele lar lhe oferecia.
Dia após dia sua vida se firmava mais e mais naquele lugar e sua alma cigana ia perdendo aquela ânsia que sempre lhe sobressaltava o peito.
No início, ela havia sido tomada pelo medo da solidão que sempre ocupa os corações inquietos e as vidas aparentemente cheias de pessoas como ela. Talvez esse medo tenha sido a causa de sua decisão por ficar. Mas havia uma força maior, que por mais que ela tentasse, não conseguia...desfazer a mala. Se sentia culpada, mas não conseguia.
Sempre que ele saia ela sentava-se na cama e seu olhar distante parava fixamente em tudo que lhe pertencia...algumas roupas que quase nunca usava, muitos perfumes sempre usados e algumas lembranças das quais nunca conseguia se desfazer; tudo minimamente desarrumado dentro da mala sempre pronta.
Esse caráter de provisoriedade em tudo na sua vida era sua marca registrada, mas naquela vez ela realmente estava disposta a abandonar seus caminhos e decisões sempre tão ciganos. Mas ele nunca acreditou verdadeiramente, e quando foi numa manhã de céu cinzento, vento gelado, com lágrimas nos olhos e tom fúnebre ela lhe disse que iria partir. Ela desejou que ele a impedisse de ir, como fizera tantas outras vezes, mas ele apenas se desculpou, a abraçou e com os olhos marejados deu-lhe as costas para que ela não o visse chorar.
Quando ela se foi sentiu seu peito sangrar, sua alma ficou pequena e toda a liberdade que sempre lhe foi primordial pareceu-lhe a mais triste das prisões.
Ela esqueceu-se que havia persuadido sua alma a acreditar que sua vida cigana havia chegado ao fim, e foi por isso que por muito tempo ela ficou inerte diante do mundo todo que se abria a sua frente, pois ela não sabia mais caminhar sozinha e principalmente, não sabia para onde ir...