À vontade...o prazer é nosso!

... Afinal, na vida só há espaços verdadeiros para cores, dores, amores...e muitos devaneios.































































segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lascívia ao Amanhecer


Naquela manhã ela estava particularmente linda!
Os lençóis brancos encobriam partes do seu corpo nú milimetricamente desenhado e estendido de costas sobre cama...
Ainda sonolenta, ela percebeu quando ele se aproximou e lentamente puxou os lençóis, deixando todo o seu corpo à mostra.
Sua pele ainda estava pálida [consequência de algum mal que a acometera havia alguns dias] e o contraste dos primeiros raios de sol que invadiam as cortinas, adentrando a janela a deixava ainda mais provocante.
Seus longos cabelos disfarçavam as costas torneadas que formavam uma linha perfeita entre a cintura fina, o bumbum redondo e firme e as coxas grossas.
Ao sentir os lençóis deslizarem sobre seu corpo nú ela movimentou-se lentamente e virou-se para ele abrindo um sorriso largo e preguiçoso que deixavam seus lábios ainda mais sensuais.
Sem dizer palavra, quando ele a tomou nos braços seu corpo todo estremeceu e ela pode sentir cada pedacinho do seu corpo arrepiar como se passasse um vento gelado.
Quando ele puxou os cabelos dela para o lado e beijou seu pescoço ela sussurrou baixinho algo que nem ele pode ouvir.
A cada toque seu corpo se contorcia e ela gemia baixinho sentindo toda a volúpia do corpo quente que apertava o seu.
Ela podia sentir cada movimento que ele fazia, cada posição que ele a colocava, e isso a deixava excitantemente provocante.
De repente ela não conteve o seu desejo e gritou de prazer...Então ela apertou os lençóis sobre as mãos e as pernas e ao abrir os olhos viu somente seu corpo suado e trêmulo desenhando aquela cama enorme...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Enferma


O quarto estava sob a penumbra; a cama com alguns lençóis amassados abrigava seu corpo frágil, e seus olhos tristes e amarelos fitavam a vidraça embaçada pela chuva fria de um inverno fora de época.
Ela estava pálida, com as mãos tão magras que causavam um certo horror a quem se aproximava...
Ela não suportava mais aquela "romaria" com tantas teorias e nada de soluções...então resolveu desistir.
E depois de tantas viagens, tantos portos que ela apenas observou e jamais ancorou...permaneceu ali por muitos e muitos dias, apenas fitando aquele céu cinzento, com seu corpo emagrecido estendido na cama, enquanto sua alma sentia cada gota da chuva fria que caía embaçando a vidraça...

sábado, 6 de novembro de 2010

Em Poucas Palavras


...é que de repente o céu se abriu...mas ela não viu estrelas, nem mesmo a beleza do firmamento...viu o imenso abismo que aquele sonho lhe deixou n'alma...
É que nem sempre as coisas saíam como ela desejava e seus céus eram como era sonhava...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Liberdade Indesejada


Enquanto todos pensavam que ela estava em mais uma das suas tantas viagens, ela acordava todas as manhãs no mesmo porto...
Antes de se levantar, olhava para o lado e o via despertar sempre com um sorriso nos lábios, os cabelos esvoaçados e um bom humor que para ela sempre soava como uma deliciosa novidade matinal.
Durante muitos dias ela aquietou-se ali sem que houvesse nada que desejasse mais para sua vida do que a tranquilidade e a segurança que aquele lar lhe oferecia.
Dia após dia sua vida se firmava mais e mais naquele lugar e sua alma cigana ia perdendo aquela ânsia que sempre lhe sobressaltava o peito.
No início, ela havia sido tomada pelo medo da solidão que sempre ocupa os corações inquietos e as vidas aparentemente cheias de pessoas como ela. Talvez esse medo tenha sido a causa de sua decisão por ficar. Mas havia uma força maior, que por mais que ela tentasse, não conseguia...desfazer a mala. Se sentia culpada, mas não conseguia.
Sempre que ele saia ela sentava-se na cama e seu olhar distante parava fixamente em tudo que lhe pertencia...algumas roupas que quase nunca usava, muitos perfumes sempre usados e algumas lembranças das quais nunca conseguia se desfazer; tudo minimamente desarrumado dentro da mala sempre pronta.
Esse caráter de provisoriedade em tudo na sua vida era sua marca registrada, mas naquela vez ela realmente estava disposta a abandonar seus caminhos e decisões sempre tão ciganos. Mas ele nunca acreditou verdadeiramente, e quando foi numa manhã de céu cinzento, vento gelado, com lágrimas nos olhos e tom fúnebre ela lhe disse que iria partir. Ela desejou que ele a impedisse de ir, como fizera tantas outras vezes, mas ele apenas se desculpou, a abraçou e com os olhos marejados deu-lhe as costas para que ela não o visse chorar.
Quando ela se foi sentiu seu peito sangrar, sua alma ficou pequena e toda a liberdade que sempre lhe foi primordial pareceu-lhe a mais triste das prisões.
Ela esqueceu-se que havia persuadido sua alma a acreditar que sua vida cigana havia chegado ao fim, e foi por isso que por muito tempo ela ficou inerte diante do mundo todo que se abria a sua frente, pois ela não sabia mais caminhar sozinha e principalmente, não sabia para onde ir...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Abrindo os Olhos


Era um dia bastante comum quando ela se deu conta de que todos os caminhos que seguia a levavam sempre para o mesmo lugar.
Naquele dia ela acordou bem cedo, mas teve dificuldades para sair da cama porque imaginava que algo estava diferente. Passou longos minutos sentada ao pé da cama, olhando para o chão, sentindo sobre os ombros todo o peso de suas escolhas.
Ela não entendia como caminhava tanto e quando parava se via sempre no mesmo lugar. Mas seus caminhos não eram comuns, suas viagens eram das mais diversas, seus dias eram diferentes, e mesmo assim seus rios sempre corriam para o mesmo mar.
Quando ela percebeu onde estava, sobressaltou-se tanto que seu coração parecia saltar-lhe à boca. Mas dessa vez ela não chorou. Preferiu ficar sentada ao pé da cama, apertar seu nó da garganta, e tentar entender porque desejava tantos horizontes se seus ventos a levavam sempre para o mesmo lugar. É que naquela manhã, ela resolveu realmente abrir os olhos e pode ver onde esteve de verdade durante toda a sua vida...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Inquirição


Assim que falei seu nome, ela entrou em silêncio na sala. Eu não a conhecia de outras ocasiões, jamais a tinha visto e certamente jamais a verei novamente.
Ela entrou com a cabeça baixa, os olhos marejados e a voz tão embargada que eu quase não conseguia ouví-la, tanto que por diversas vezes eu pedia que ela repetisse, situações essas que me deixam constrangida ao perceber o constrangimento e o sofrimento dela.
Comecei a inquirí-la e perguntar se confimava os atos de agressão sofridos pela nora, praticados por seu filho. A cada pergunta que fazia ela esboçava sua dor num relato triste e comovente.
Eu percebi que ela segurava as lágrimas, tentando se conter, e tive que me esforçar muito para não me perder nas emoções daquela mulher.
Houve um momento em que ela desviou o olhar do meu, virando-se quase de costas, e respirou tão fundo que certamente todos na sala puderam ouvir. Depois voltou-se para mim e, já não podendo mais segurar as lágrimas, irrompeu em um choro abafado, pesado e cheio de culpa.
Ela relatou detalhadamente cada ato de agressão do filho e disse que depois que ele passou a se drogar ele nunca mais foi a mesma pessoa.
Cada palavra que ela dizia vinha carregada de dor, vergonha e humilhação. Houve um momento em que ela não conseguiu continuar, então me levantei, lhe ofereci um copo d'água e com voz fria e firme retomei as perguntas.
O tempo todo ela acreditou que eu estava indiferente, que não fazia nada além do meu trabalho e que tudo que ela dizia não fazia qualquer diferença para mim. Mas ela não sabia [e certamente jamais saberá] que a cada olhar, a cada palavra abafada, a cada momento de silêncio meu coração partia-se numa desesperança singular. Eu sabia que aquela era apenas mais uma, entre as tantas mães, esposas, filhas, que passarão por alí e se tornarão apenas mais um número no imensurável e incorrigível mundo dos casos sem solução, das dores sem remédio, das desilusões e do fatídico rótulo de mãe, esposa, filha, de presidiário. Isso quase a fazia acreditar que sua vida estava tão perdida quanto a dele. E foi assim que um novo personagem passou rapidamente [deixando também uma marca] pela rocha viva daquela sala, sempre tão gelada e cheia de corações tão vazios pela "normalidade" dos casos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tentando amá-lo


Ela andava agitada demais para perceber que ele quase se perdia nas curvas que ela própria criava. Ela sabia do risco e das possibilidades de tudo ruir instantaneamente. Mas ela não se importava.
Cada dia que passava com ele ela tentava amá-lo. Acordava no meio da noite apenas para vê-lo dormir e, sentada ao lado dele, em silêncio, buscava respostas para sua infinidade de perguntas.
Enquanto ele dormia, ela podia observar cada traço, cada detalhe que ele trazia na face, e alí sentada , com o queixo enterrado nas mãos, apoida sobre os joelhos, ela imaginava tudo que queria que ele fosse.
Ele tinha uma beleza singular, o rosto era oval, cabelos claros, lábios volumosos e a pele era de uma brancura quase rosada. Era alto, corpo esguio, voz grave. E era apenas isso que ela conseguia admirar. Então, enquanto ele dormia, ela o despia de toda a beleza que ele trazia consigo, o deixava comum, e iniciava mais uma vez sua tentativa de amá-lo.
Ele era um belo frasco, e dormindo, a mansidão que pairava sobre o rosto dele o tornava ainda mais bonito. Mas ela era demasiadamente estranha e avessa as aparências, porque ela sempre acreditava que a beleza das pessoas mascaravam a feiura das suas almas. Isso era um grande problema quando ela decidia se aventurar em seus sentimentos, pois nunca alguém era capaz de lhe despertar aquela admiração adormecida que ela tanto fazia questão de sentir pelo outro. E no meio da noite, olhando friamente para ele, adormecido, imóvel, ela não encontrou razões suficientes para amá-lo, mas como ela não tinha certeza, ela se calou. Quando ele despertou, ela deixou que ele acreditasse que ela realmente estava alí. Sorriu, lhe deu um beijo, o abraçou forte, e com a cabeça no ombro dele, abriu os olhos e fitou o nada, se deixando cair no vazio de suas incertezas. É que ela vivia aprisionada as suas tantas exigências.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mesmices


...É que às vezes esse vento sem graça, esse céu sem nuvens, esse silêncio sepulcral dentro de mim, me dão uma sensação de que o mundo está parado.
Eu acordo todas as manhãs e tudo é sempre tão igual, quase mecânico. Então eu encontro as mesmas pessoas, nos mesmos lugares e elas sempre dizem as mesmas coisas, estão com os mesmos sorrisos amarelecidos pela insatisfação que todas trazem camuflada n'alma. Elas sempre contam as mesmas histórias, as mesmas peripécias dos filhos, as mesmas reclamações das esposas e dos maridos.
É incrível como as pessoas são tão comuns e se convencem tão facilmente de que a vida que levam é tão cheia de emoções, sem perceberem que tudo que fazem, que dizem, que sentem é sempre tão igual. Talvez elas vejam emoções nas mesmices de suas vidas; assim deve ser mais fácil acreditar que são felizes.
Às vezes eu faço de opinião observar uma a uma, para ver se não ando desatenta e por essa razão as diferenças das pessoas acabam passando despercebidas pela mesmice da MINHA vida. Mas o fato é que não vejo nada de diferente, mesmo depois de muito observar, pois realmente as coisas estão sempre iguais e cada pessoa, uma a uma, vai caindo em seu inevitável desperdício de tempo.
Então eu vou contando os minutos dessa vida tão igual e perdendo também o meu tempo observando as pessoas, já que não tem nada de mais interessante para se fazer quando tudo parece tão parado.
Ainda que um momento nunca mais seja o mesmo, é essa "sensação fotográfica" que tanto me incomoda e me faz ver as coisas e as pessoas sempre tão iguais, que me imerge nesse silêncio do qual eu tanto me queixo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Construindo na Areia


Tudo foi construído sobre a areia e quando veio a primeira tempestade as estruturas ficaram abaladas. É que existiam verdades que jamais seriam ditas...A [in]segurança do solo era uma delas...
A princípio ela se preocupou, franziu a testa, torceu os lábios e desejou dizer o que realmente sentia. Desejou contar tudo o que sabia ou apenas o que deveria.
Então ela respirou fundo, levantou os olhos e aceitou as escolhas.
Por mais que desejasse impedir que tudo ruísse ela não podia interferir no curso do destino, pois era responsável também por suas próprias escolhas.
Recostou-se num canto do seu quarto e se perguntou se aquela tempestade seria uma benção ou uma maldição.
Ela sempre sabia onde levantava suas construções e não fazia muita questão de rocha firme. As tempestades a fascinavam.
Então ela esperou destemida. Quando a tempestade chegou ela viu tudo desaparecer em poucos minutos.
Ao final, ela quase foi tomada por uma ânsia inexplicável.
Olhou ao redor e não viu mais nada.
Levantou-se lentamente, estampou um sorriso amarelo nos lábios e, com o mesmo tédio que lhe era tão familiar, saiu em busca de um novo terreno onde levantaria suas estruturas para novamente aguardas as tempestades.
Seus castelos de areia sempre abrigavam alguém. Talvez fosse por isso que ela não se importava quando eles eram desfeitos.

sábado, 10 de julho de 2010

"Para" H.T


"Hoje é um dia comum, sem nada de especial...mesmo assim, é dia de dizer que VOCÊ é uma pessoa especial, até mesmo em dias comuns.
Dia também de relembrar os dias lindos, ensolarados e quentes que passamos juntos durante todos esses anos...cada qual com suas peculiaridades, e em todas as vezes, cheios de emoções.
Vida, amar você é leve, é liberdade, é prazer, é satisfação!
Desejo de todo meu coração (bandido ou não; não importa) que meu amor seja pra você, sempre, como uma brisa suave, como um suspiro profundo de alegria, como aquele solzinho que aquece sem queimar, aquela "ferida que dói e não se sente", que seja como uma lembrança feliz e a certeza de que dias melhores sempre podem vir.
Desejo também que meu amor por vc jamais seja prisão, jamais seja obrigação, jamais seja um peso sobre seus ombros, sobre a sua vida.
Desejo sempre que lhe disser EU TE AMO não esperar um "eu também", porque nem sempre "eu também" é realmente EU TE AMO. E desejando não esperar isso, desejo lhe dar sempre amor verdadeiro, independente de distância geográfica.
Desejo sempre lhe perdoar quando EU julgar que você errou comigo, e desejando isso, também desejo ter humildade para reconhecer que nem sempre o que EU julgo ser erro alheio o seja, e ainda, reconhecer que o erro pode ter sido meu, e assim, desejo que possa me perdoar verdadeiramente e que no dia seguinte esqueçamos para sempre os momentos ruins.
Desejo que um dia entendas que não tivemos apenas "lances", como você frisou tantas vezes, mas que tivemos (ou temos) uma história, uma linda história de amor, e desejando isso, desejo também que percebas que algumas coisas são como desejamos que sejam.
Desejo além de tudo isso, que vc possa ser feliz, comigo, ou sem mim; e que sua felicidade seja sempre verdadeira e completa; e desejando isso, desejo também um coração manso, compreensivo e forte para se reconstruir se um dia meus desejos não puderem mais se concretizar.
Vida, desejo que seu fim de semana seja abençoado, cheio de coisas boas, e que se estiver triste (coisa que não lhe desejo), desejo que as lembranças de tantos dias felizes que passamos juntos e a certeza do quanto gosto de você possam amenizar a tristeza e lhe trazer um sorriso franco e acalmar seu coração.
[...]"

"Por" H. T.


"Obrigado pelo amor
Pela dor
Pela vida
Pela vinda
Pela companhia
Obrigado por me fazer melhor e mais feliz
Obrigado pelos dias, pelas noites
Pelas tardes e manhãs vigorosas
Pelo dia ensolarado e quente no meu coração
Obrigado por fazer desses 12 dias
Dias melhores, felizes e inesquecíveis
Te adoro"

SP - 12 de Junho 2010.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Despercebida


Tudo estava bem, até o dia em que resolveu voltar. Ela já tinha mudado os quadros, as flores já não eram as mesmas e as velhas roupas já não existiam mais. Por muitas e muitas manhãs ela acordou sozinha e acreditou que jamais o veria. Chorou tantas vezes que seu choro se tornou sem lágrimas. Mas a cada dia ela se reconstruía e tentava sobreviver a dor de tanta solidão. Quando seu penar parecia ter chegado ao fim e seu coração começou a cicatrizar ele voltou impiedoso e avassalador e não lhe deu tempo sequer de fechar as portas para que ele não pudesse entrar. É que ela passava muito tempo olhando pela janela e sequer sabia que nunca deixou de esperá-lo.

domingo, 4 de julho de 2010

Querer


Hoje eu só quero abraço apertado [dispenso até beijo molhado].
Quero chocolate quente, mesmo fazendo calor.
Quero mentiras sinceras que me façam acreditar que são verdades.
Quero apenas palavras soltas, que sejam leves para minha alma.
Quero muitos sorrisos, mesmo que amarelos.
Quero esquecer as coisas que me entristecem.
É que é um dia comum, eu sei, mas não há mal algum em querer.
Ah, e quero assistir TV, sem peso na consciência, porque eu quero ser mais leve também.
Quero ligação de madrugada só para ficar irritada e depois dormir de novo com cara de boba.
Quero acreditar que as coisas não são como elas são, mas são como eu quero que sejam.
Quero tomar vinho acompanhada.
Quero ouvir piada engraçada.
E contar piada sem graça para alguém rir de tão sem graça, até dar dor na barriga.
Quero fazer alguém feliz pelo simples fato de me fazer feliz.
Quero tirar foto dentro de carro e fotografar alguém dirigindo.
Quero cantar, mesmo cantando tão mal.
Quero ouvir que vai ficar tudo bem.
Quero escolhas sem renúncias.
Quero espelho mágico.
Até no meio da tarde quero ser quem eu quiser, ir para onde eu quiser.
Não me importo de voltar depois.
Quero olhar verdadeiro e também banho de mar.
Quero ser satisfação e jamais obrigação.
Quero viver a vida, da maneira mais despida e me esquecer dos clichês.
Porque hoje eu quero mesmo é brincar de faz de conta. E se a fadinha do querer passar...Tudo pode acontecer.

domingo, 27 de junho de 2010

Inconformismo


Por algum tempo ela tentou resolver a confusão em que estava metido seu coração. Caminhou por longos dias. Passou muitas noites em claro, pensando.
Não se conformava por se sentir tão feliz! Isso a deixava demasiadamente incomodada.
Ela olhava à sua volta e tudo estava minuciosamente em seu lugar.
Aquela organização. Aquela calmaria. Tudo a deixava confusa. E ela sentia que a tempestade que existia permanentemente dentro dela [muitas vezes silenciosa] começava a se formar. Mas nada mudava.
Foi então que ela percebeu que havia atracado o seu navio. Percebeu que aquele porto seguro que ela sempre avistava ao longe [mas sempre fugia] estava tão perto que não havia tempo para afastar-se.
Mas ela nunca se conformou com aquela felicidade tão comum a todas as pessoas [ainda mais comuns]. Em razão disso, todas as vezes que avistava um porto, um cais seguro, ela levantava suas velas e partia em disparada, navegando em mar aberto.
Aquela felicidade não era para ela. Aquela calmaria externa não era capaz de dissipar a tempestade que existia dentro dela. E era isso que não a deixava aceitar aquela sensação de ser feliz. Era por isso que sempre partiu sozinha, até alí.
Agora que descuidou-se, e ancorou, vive todos os dias uma ânsia de algo prestes a explodir, mas que não explode. É como aquela vontade de espirrar, que vai e volta, vai e volta, vai e volta. Mas fica apenas na vontade. Como aquele sonho no qual se está caindo, caindo, caindo, perdendo o ar, e você tenta desperadamente sair dele. Mas não consegue acordar.
Assim, a cada dia, sua vida se envolve nessa ânsia desesperada por todas as coisas que nunca são. E mesmo assim, permanece ali. Inconformadamente feliz.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sem lenço e sem documento...


...Após lhe ser retiradas as algemas, sentou-se de cabeça baixa e não ousou levantar o olhar. Iniciado o interrogatório, perguntou-lhe a assistente:
_ CPF?
_ Não tenho.
_ RG?
_ Não tenho.
_ Profissão?
_ Nenhuma.
Nessa hora, como se levasse um grande susto, levantou a cabeça de súbito, olhou de relance para a assistente, desviou o olhar, lançou-o ao vazio, suspirou, e disse em tom melancólico e com a voz embargada:
_MEU DEUS...EU NÃO TENHO NADA!!!
...É possível que naquele momento, após passar quase 30 anos sem se dar conta de que "não era nada", ele tenha notado que não adiantaria dizer mais nada, não adiantaria questionar, que NÃO TER/SER NADA já o tornara culpado.
Baixou novamente os olhos e sussurou de modo quase imperceptível:
_ Não tenho nada a dizer. EU REALMENTE FIZ TODAS ESSAS COISAS.
Sem dizer mais nenhuma palavra, respondeu a todas as demais perguntas com gestos de cabeça.
Algemado novamente, como se fosse um animal feroz e perigoso, foi retirado da sala e levado novamente para a "jaula", onde passaria uns "bons" anos de sua vida desgraçada.
...Seu crime?
...Furtou alguns pães para saciar a fome dos filhos que definhavam em casa...Se é que aquilo poderia se chamar de casa...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Máscaras


A vida se compõe de tantas coisas. Ao longo dela vamos construindo depósitos dos acontecimentos que nos cercam; dos que participamos e muitas vezes, também daqueles que sequer nos dizem respeito. Conhecemos pessoas incríveis que poderiam mudar nossas vidas se a deixássemos nos conhecer verdadeiramente. Mas há um mal que nos sonda dia e noite. O mal do medo de sermos quem realmente somos. Tirar a máscara pode ser a coisa mais difícil na vida de uma pessoa comum. Esse medo tem assolado muitas pessoas. Ser sempre forte, inteligente, decidido, acertivo; eis aí a necessidade constante do uso da máscara. Quando encontramos alguém que representa perigo de nos "desmascarar", logo nos esgueiramos pelas curvas da nossa própria vida e lá vamos nós novamente empreender nova fuga. É doloroso como essa necessidade de não ser quem realmente somos toma dimensão tão grande em nossas vidas! Tantas vezes choramos escondidos num canto do quarto, encolhidos na cama e nos camuflamos em nós mesmos. Ser fraco é inaceitável no mundo de hoje! Assim, usamos uma máscara que nos torna "super-heróis" para os outros e para nós mesmos. Nunca falhamos, nunca choramos, nunca perdemos, e embora nos olhemos todos os dias no espelho, jamais nos vemos. Não queremos nos ver, essa é outra dolorosa realidade. Quando choramos escondidos num canto do quarto, encolhidos num canto do quarto, camuflados em nós mesmos, na realidade acreditamos que não somos nós. Aquele fraco não sou eu! Felicidade permanente existe sim; a fraqueza que é apenas estado de espírito! Como é fácil acreditar nisso. Por isso, a maioria de nós passa a vida toda escondida atrás dessa máscara de ilusões que se cria no decorrer de cada dia dessa vida que tantas vezes se confunde com a de tantas outras pessoas que precisamos ser e criar dentro de nós mesmos. Sobrevive-se bem melhor quando ninguém pode nos ver como realmente somos!

Opção


Ele vivia dias esplendorosos! Quase chegou a acreditar que poderia mesmo [querer] ser feliz. Todas as manhãs ele acordava e a via ali, linda, nua, inteiramente sua. A abraçava e a beijava antes mesmo que ela despertasse. Cada dia que passava ao lado dela era como se um pedaço de seu coração fosse remendado. Mas às vezes ele se pegava absorto em seus pensamentos. E ela...ela simplesmente o observava em silêncio. Respirava fundo, olhava para sí mesma e sabia que deveria dizer algo engraçado para dissipar aquela névoa pesada. Então, assim fazia. Ele soltava alguns sorrisos amarelos e minutos depois se entregava novamente por inteiro. Era visível que a vida dele estava despedaçada. Por mais que ele tentasse esconder, ela sabia que não seria fácil juntar os tantos pedaços em que ele se fizera. Ele tentava, mas como tantas pessoas que ela conhecera ao longo de sua vida, ele também não queria verdadeiramente voltar a ser inteiro. De certo modo, aquela dor lhe causava um estranho prazer, e inconsciente do que se tornara, vivia imerso naquele sofrimento. Assim, afastava qualquer pessoa que tentasse retirá-lo desse mundo particularmente seu. Dias depois, a viu partir sem sequer notar que ela [possivelmente] jamais voltaria. Não notou também que ele mesmo a mandava embora. E o que ele sequer imaginava era que assim que ela partisse, ele perderia a melhor chance de se reconstruir e voltar a viver por inteiro. Mas isso...ele só viria a saber quando fosse tarde demais. E ela estaria demasiado distante para poder [tentar] salvá-lo.

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Impressões" acerca dele


Ele era irritantemente perfeito. Sorria quando estava com raiva, escondia-se para não preocupá-la com suas insatisfações, abria a porta do carro, e tinha o abraço mais seguro que ela conheceu em toda a sua vida. Às vezes, quando era noite, ele a abraçava tão forte a ponto de acordá-la. Havia também uma certa insegurança em relação a ela nos olhos dele que, de certo modo, a envolvia. Ele sempre se fazia muito forte, mas ela sabia que intimamente ele não o era tanto quanto gostaria que ela acreditasse que fosse. Quando ele falava, era firme, forte, tão envolvente a ponto de deixá-la excitada. Houve uma noite em que ele se aproximou tanto que a fez estremecer verdadeiramente como jamais havia acontecido. Ela era muito atenta e até então nunca havia permitido que isso acontecesse. Então ela o abraçou forte, se aconchegou em seu peito e chorou copiosamente. Ele permaceu em silêncio. Exatamente como ela temia. E foi tomada por um medo que, embora lhe fosse familiar, a deixou muito assustada. Sentia-se entrelaçada a ele. Ela sabia que poderia "ser ele". Ele sabia que poderia "ser ela". No dia seguinte ela quase partiu, como sempre fazia. Mas dessa vez ela não conseguiu. Não sabia porque, não sabia até quando. A única certeza que ela tinha é que não poderia magoá-lo, pois magoaria a sí mesma. Foi assim que descobriu que ele tornara-se parte dela. Ficando ou partindo, ele sempre permaneceria nela. Bastou um descuido, um piscar de olhos, e tudo se encaixou perfeitamente em sua vida de emoções desencontradas, e pela primeira vez, seu desejo de ficar foi maior que o de partir.

Encontro


Era uma manhã estranhamente peculiar. Havia um vento gelado e o mesmo frio de muitos anos atrás; aquele mesmo do primeiro encontro. Mas esse ela sabia que não seria como os outros. Em meio a multidão, ainda com as malas nas mãos, ela o avistou sorrindo a sua espera. Observou-o parado ao longe, o coração mais acelerado que de costume, e não aproximou-se de imediato. Fitou calmamente algumas pessoas ao seu redor, e teve aquela sensação que sempre lhe foi familiar, aquela, trazida pela tristeza dos aeroportos. Era mais uma chegada, que em breve se tornaria mais uma dolorosa partida. Então ela caminhou lentamente e a cada passo em direção a ele sentia-se mais leve, mais feliz...mais amada. Quando o abraçou, viu suas tempestades se dissiparem como num passe de mágica. Segurou as lágrimas, beijou suavemente seus lábios e teve certeza que o faria feliz. Mas o desassossego do seu coração ainda a incomodava; talvez porque intimamente já soubesse que aquela era apenas mais uma conexão em seus tantos voos sem terra firme. Uma pequena pausa, uma espera, para novamente partir sozinha. Respirou fundo, trocou as primeiras palavras, carregadas de saudades, e decidiu que poderia acreditar que sua viagem chegara ao fim. Assim, ela não se deu conta de que tudo sempre acabava igual e pode viver muitos dias verdadeiramente felizes.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

CHAT...ando


...
____ De RO. Vc SP né?
____ Isso.
____ 143 km. de congestionamento ai hj heim...se bem que isso dá um charme peculiar a SP rsrsrs.
____ Agora caos urbano se chama charme?!
____ Eu acho...
____ Vc é maluca!
____ Nada, apenas gosto do reverso do avesso rsrsrsrsrs
____ Nossa! "reverso do avesso", tenho q aprender com vc.
____ rsrs bobo. Isso foi só pra vc ter uma idéia rsrs
____ Ideia. rs
____ Ahhhh ainda não me familiarizei com as novas regras...rs
____ Sua idéia estava certa...boba...
____ Ahhhhh vc entendeu!
____ Mas então, será que vc vale a pena roraimense?
____ Hummm pelo jeito fugiu das aulas de geografia rsrsrsrsrsrss...deve ter se confundido com as de português...
____rsrsrsrsrsrss
____ Seja humilde e peça pra eu te ensinar...vamos, anda...rs
____ Tá, me ensine.
____RO=Rondônia=Rondoniense. RR=Roraima=Roraimense. Mas te perdoo. Até a Fátima Bernardes errou em plena rede nacional rsrsrsrs
____ Ahhhh mas isso não é Estado...é extensão!
____ Bobo msm viu...

...

____ Careca, sem dentes, uns 200 kg., zarolha e por aí vai...mas sempre deixo a foto de uma prima no msn pra enganar os menininhos inocentes rsrsrs
____ Ahhhh eu nunca gostei de pelos mesmo...se é careca serve...Mas tem uma pelada? rsrs
____ Não vejo beleza na nudez!
____ Ah tá! e vc transa como? por telepatia?
____ Ai q bobo...espera eu molhar o bico rs. Acho muito mais sexy um homem com uma boxer CK q peladão rsrs; mas claro que pra transar é melhor q ele esteja pelado hahahahaha.
____ Pelo menos pensamos algo em comum.
____ rsrs E até q vc é bonitinho...Se bem que de camiseta branca qq homem fica bonito né...
____ Tá...de preto então, taí.
____ Credo! Eu odeio regata! Só o Dinho do capital, na academia e olhe lá!!!
____ Vai te catar!!!
____ Ai q medaaaa de vc! q "brabura" rsrsrsrsrsrs
...
____ Mas assim...uma menina bacana, inteligente e bonita assim pq tá sozinha?
____ rsrs é sério ou ainda tá brincando?
____ É sério.
____ Primeio, obg. Ahhh menino, sei lá, uma q sou meio anti social msm rs e desde q voltei pra casa dos meus pais, há dois meses, não coloco a cara pra fora da porta. Estou aqui escondida esperando q o príncipe encantado venha me resgatar rsrsrsrs. Brincadeira....mas hj está difícil namorar, ngm quer nada com nada, só sacanagem...e eu já passei dessa fase hehehee
____ Vou ser sincero. Sou noivo.
____ Já esperava algo do tipo rsrs
____ Incrível, gostei muito de vc.
____ Obg. Tbm acho q posso gostar de vc rsrsrsrrs
....

____ Não se preocupe, td dá certo, e um mês passa rapidinho...logo, logo estará no seu lar doce lar...
____ Obg pela força mesmo.
____ Imagine. Fica bem menino. Boa noite. Bjos.
____ Tá. Bjos.
....

Ele era irritantemente fascinante!
E ela percebeu isso desde o primeiro momento. Usou todas as suas máscaras. Mesmo assim ela sentiu que ele havia devassado seus mais íntimos segredos.
Ela precisava fugir urgentemente.
Ele tinha um mistério e um humor negro carregado de estranhezas que ao mesmo tempo que a fazia sorrir a deixava irritada. E ela tinha o péssimo hábito de se encantar por pessoas estranhas e irritantes.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Barco à deriva


Naquela manhã fria e chuvosa de inverno ela percebeu que alguma coisa não estava certa. O vento estava gelado, o tempo quase se arrastando. Com os olhos baixos, buscou todas as viagens que fizera em seus tantos navios. Ela tinha muitos navios. Em suas viagens conheceu muitos lugares. Em sua maioria, paradisíacos. Algumas vezes nem tanto. Avistou desertos "além-mar". Mergulhou em ilhas deslumbrantes. Contemplou céus de belezas quase irreais. E quando cansava-se de um de seus navios, saltava para outro em pleno mar. E se entediava-se de novo, mais uma vez trocava, para seguir viagem em outro navio mais veloz. Às vezes sentia-se tão livre e segura que acreditava que poderia permanecer em determinado navio pelo resto da viagem. Mas depois, bastava um vento leve, que sequer derrubava suas velas, para novamente saltar para outro que julgava mais seguro. Algumas vezes sequer esperava o vento chegar, pois o medo de que viria bastava para que ela navegasse em nova morada. Assim ela desbravou muitos mares. Viu o sol se por e a lua nascer dos ângulos mais diversos que se pode imaginar. E havia dias em que ela trocava de navio tantas vezes quantas se entediava. Nesses dias podia ver quão grande estava sua frota, uma vez que suas trocas eram rápidas o bastante, que o mar não tinha tempo de apartar um navio do outro. Outras vezes, navegava tanto sem trocas que quando olhava ao redor havia poucas escolhas a fazer. Por isso, muitas vezes ela voltou para alguns dos navios com os quais já havia navegado em outras ocasiões. Ela fazia muitas viagens. Sua vida inteira havia sido um viagem. Ela avistou ao longe muitos portos seguros, mas nunca conseguiu navegar até lá. Então naquela manhã fria e chuvosa de inverno ela se deu conta de que quando vinha a tempestade ela nao tinha um cais para atracar. E percebeu que ela mesma era um barco triste e solitário à deriva. Mesmo com todos os navios que julgava possuir.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cretino Destino!


Mas como esse tal Destino está me deixando irritada hoje! Tenho mil páginas para estudar e esse senhorzinho não para de martelar a minha cabeça. Entre "licitações" e "servidores públicos" vejo esse mocinho insolente passear por cada linha que meus olhos percorrem. Mas oque me irrita mesmo não é isso, e sim o fato desse descarado e petulante não se mostrar quem é e muito menos a que veio! Ainda ontem me levava para cima e para baixo de salto alto e meia fina, já agora me faz "havaianar" de camiseta surrada e cabelo desgrenhado, para semana que vem me arremeter aos imensos saltos de novo. E nada de concretizar seu trabalho. Êta Destino preguiçoso! Francamente essas idas e vindas para sempre estar no mesmo lugar me cansam! Sem contar aquele calor infernal que passou por aqui ontem; parecia um caldeirão borbulhante! Ainda assim esse senhorzinho não se fez de rogado e veio só para me irritar também. E está aí uma coisa que ele faz muito bem. Odeio coisas inacabadas, é bem isso que ele faz comigo! Deixa tudo inacabado! Mas logo logo pego esse moço pelas orelhas, arranco sua máscara, o faço falar e descubro a que veio! Só assim para me deixar sossegada de vez!

domingo, 16 de maio de 2010

Existencialismo


É que essa melancolia que vejo nas pessoas me agrada muito, me causa uma tristeza excitante, peculiar. Percebo agendas tão cheias de compromissos profissionais, e corações cada dia mais vazios, solitários. Lamentável [e poético até] como as pessoas se perdem tanto a ponto de conseguirem se esquivar de sí mesmas. Nem mesmo o "último modelo" é capaz de preencher essa ausência que o ser humano plantou em sí. Essa insatisfação sem motivo, essas vidas paradas à beira do abismo esperando emoções desconhecidas, me dão uma impressão triste das coisas, do mundo de um modo geral. Todos à espera daquele "salto fugidio", na crença de que poderão se encontrar novamente. Às vezes a tarde fica tão parada, um silêncio que grita no ouvido, e isso me retrata o desespero que a modernidade, o capitalismo exacerbado enrustiu nas pessoas. Vejo aqueles sorrisos amarelos...e quanta insatisfação! Talvez seja esse meu existencialismo acentuado que me dê essas sensações do mundo. Mas creio também que isso é comum em muitas pessoas; Bandeira também as tinha quando desejou ir "embora pra Passárgada". E uma coisa é fato, esses dias sem graça, esse tempo parado, esse vazio que as pessoas trazem na alma, esses olhares desesperados por algo novo [e também os das pessoas que sequer levantam os olhos do chão], essa tristeza singular que envolve todas as coisas, realmente tornam o mundo mais bonito...É que vejo muita beleza nas coisas tristes, ou talvez apenas goste dessa feiura mascarada que cada um esconde em sí mesmo.

Perdido


Naquela manhã ele acordou menos vivo que de costume. Levantou-se e se pôs a pensar nas tantas coisas que deixara passar por sua vida sem sequer notar. Estava com a alma tão pesada, a ponto de sentir uma dor física que quase não podia suportar. Olhava para sí e percebia que havia se fechado tanto que nem mesmo ele conseguia se ver com a mesma nitidez de outrora. Era estranho a sí próprio. Percebeu que a última metade de sua vida tinha deixado passar à margem de sí mesmo ... e também dos outros. Até que ele tentou, mas suas feridas estavam abertas o bastante para não deixá-lo arriscar-se, ainda sangravam o suficiente para causar-lhe medo e tirar-lhe a coragem de abrir a porta para deixá-la entrar. Ele sabia que muitas vezes ela parou ali, olhou, e esperou. Ele não abriu, e ela não queria invadí-lo, e ao final sempre ia embora deixando a certeza de voltar. Mas ele não se sentia mais, não sabia quem era, não tinha para onde ir. Passou a manhã estendido em sua cama, olhando para o nada e deixando-se definhar ainda mais. Ele tentava, mas na realidade, não queria se encontrar, por isso permanecia sempre à margem...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A "ausência" dela


Naquela noite triste ela partiu. Levou consigo os sonhos que alegremente alimentara durante toda vida. Agora, restou apenas o seu lugar vazio à mesa. Ele a esperou para o jantar, mas sabia que aquele dia ela não chegaria, nem mesmo no outro. Sentiu uma dor tão grande que não conseguiu conter as lágrimas. Quanta saudade! Como ela abrandaria o sofrimento dele se estivesse ali. Ele irá chorar por muitas noites ainda, nas sombras do vazio que a ausência dela lhe causara. Como ele desejou partir também! Mas não, ele não podia. Restou-lhe apenas uma saudade daquele tempo em que foi feliz. Nessa saudade, lançou seus desejos que se perderão pelo infinito espaço do tempo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

À margem


Há muito tempo ela caminhava a esmo. As vezes parava, olhava tudo ao redor, e como não era acometida por nada que lhe interessasse, novamente seguia viagem. Assim, ela levava sua vida num infindável ir e vir sem qualquer destino certo, somente com o anseio no peito de encontrar algo que lhe tirasse daquela monotonia. Certa vez, estando ela muito cansada, com sede e entediada, avistou ao longe um grande lago. Sentia sobressaltar-lhe o coração a cada passo que dava em direção a ele. Ao aproximar-se, ela sorriu como se estivesse aliviada. Chegou bem perto, tocou aquela água tranquila e cristalina, saciou sua sede e descansou nas margens daquele lindo e imenso lago. Então ela decidiu que iria ficar. Por vários dias ela se levantou e observou aquele lago, e, satisfeita, acomodava-se às suas margens, sentindo-se segura e feliz. Mas certo dia ela se deu conta de que nada mudara ao redor desde que avistou o lindo e imenso lago de águas tranquilas e cristalinas. Ficou assustada. Sentiu um antigo anseio apertar-lhe o peito, e cismou. Absorta, levantou-se, chegou ainda mais perto do lago e se pos a fitar sua própria imagem naquelas águas. Tentou fazer surgir uma correnteza, uma onda, mas sua imagem sequer se movia, via-se refletir nitidamente, estática. Naquele momento ela foi assolada por uma tristeza que já lhe era muito familiar. O tédio lhe tomou nos braços mais uma vez. Afastou-se lentamente, sentou-se novamente a margem e decidiu que não poderia mais permanecer alí. Percebeu que aquele lago calmo e cristalino não era o que desejava. Seus anseios eram imensos demais para aportar-se. Então, tomou para si uma última porção, bebeu como se ainda houvesse sede, e partiu. Ela queria mar aberto e tudo que havia alí era um lago de água transparente e tranquila.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tédio


Ela estava tão entediada que resolveu sair por aí a cometer seus pecados, a machucar as pessoas, a despertar desejos que jamais seriam saciados, a abrir as feridas alheias. Isso a fazia esquecer das suas mazelas. Ao final do dia, lá estava ela novamente, enterrada em sua cama, tentando digerir sua própria existência.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sempre partindo


...De repente ela se deu conta de que não estava feliz. Passou horas em silêncio naquele dia quente de verão. Se perguntava sobre as razões de não conseguir se satisfezer com a metade da laranja. Um lágrima furtiva escorreu-lhe dos olhos. O que
mais lhe doía era não saber tais razões. Passara dias tentando decidir que caminho tomar, e naquela manhã, mergulhada naquele silêncio , decidiu-se, mesmo sem saber ao certo o que deveria fazer. Então mais uma vez arrumou suas malas, fitou tudo ao redor e antes que ele voltasse ela partiu. Ela nunca ficava.

sábado, 24 de abril de 2010

Receitando


...E quando chegar chegue assim de mansinho, pé sobre pé, mas não se esqueça de fazer saber-se [sou distraída] seja lá como for. Pode vestir um sorriso ou um olhar melancólico [não triste], os dois me franzem a testa [o que será um bom sinal] e me deixam inquieta. Deixe-me ouvir sua voz como melodia leve [não a ponto de me fazer dormir] e forte. Seja inteligente, mas não arrogante, e faça algumas piadas sem graça só para me mostrar que você tem senso de humor. Sempre gostei de piadas sem graça. Não use camisa para me levar para jantar no primeiro encontro [pague a conta], basta uma camiseta branca e estará bem vestido. Jamais use regata! [não gosto nada de regata]. Talvez na academia seja aceitável. A barba pode estar por fazer, porém, deixe os cabelos impecáveis [se preciso, use gel]. Não pegue em minha mão para recitar poesia, [isso me irrita] mas a aperte forte para me acalmar [isso sempre dá certo]. E se quiser recitar poesia, brinque de ser poeta e o faça sempre em pé, sorrindo [mesmo que seja triste] e se mexendo muito [vou achar engraçado e bonitinho]. Deixe-me saber da sua vida, mas não me conte todos os seus segredos [mistério me fascina] e queira, mas não pergunte sobre os meus. Minta quando for preciso, mas me faça acreditar que é verdade. Sempre me deixe andar do seu lado esquerdo. Quando me magoar, não acredite se eu disser que está tudo bem [sou muito rancorosa] e me deixe saber que você não acredita. Fique longe de mim durante minha TPM [esse tempo me fará sentir saudades]. Olhe-me nos olhos toda vez que disser qualquer coisa e sempre faça o que me disser que fará. Se disser: “te ligo amanha”, mesmo que seja em seu último suspiro, realmente me ligue amanhã [sou radical com quase tudo]. Seja mais forte que eu, mesmo quando estiver sem forças [minta], mas acredite que eu também posso ser uma fortaleza. Não seja previsível [previsibilidade me entedia], mas também não se feche tanto em si mesmo, pois eu tenho muito medo de escuro. Ligue-me de madrugada só para dizer que está com saudades [posso ficar irritada por me acordar, mas dormirei novamente com um sorriso nos lábios] e precisava me ouvir. Acorde no meio da noite só para me ver dormir. Faça-me acreditar que mesmo pela manhã sou a mulher mais linda do mundo [é uma boa causa para mentir]. Perceba que sou indivisível; não há como me ter pela metade. Não apareça tanto, mas não suma o suficiente para eu acreditar que não faz falta em minha vida. Quando eu chorar, simplesmente me abrace; não me peça para parar. Faça amor [sexo também] comigo em todos os cantos da casa; depois pode sorrir e até fumar um cigarro [mas não gosto de cigarros] na cama, ou no sofá. Seja meu amante, meu amigo, meu namorado, meu marido e tantos outros em um só, mas sempre me deixe livre [liberdade é o que me prende] para ir aonde eu desejar. Goste quando eu cantar [canto mal] e entenda que sempre canto quando estou verdadeiramente feliz. Faça-me sentir ciúmes a ponto de temer perdê-lo, mas nunca seja desleal [lealdade é diferente de fidelidade] comigo nem com você. Não seja perfeito. Por fim, não siga à risca minha receita; pode invadir e fazer-se único, talvez me pegue desprevenida a ponto de deixá-lo ficar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Se Jogue!


Que o seu dia seja melhor que ontem...e não tão bom quanto amanhã...[parafraseado]...Queira muito as coisas que o deixam feliz....e QUEIRA abandonar as que não o deixam! Abra-se, rasgue-se se for preciso e tire tudo oque lhe deixa infeliz. Não se preocupe com os outros. Esteja bem primeiro, o resto vem! Não de proporções maiores que as devidas a coisas [ou pessoas] que não te acrescentem.
Acredite que tudo tem seu tempo e que vem na hora que deve vir! Não desanime se as coisas demorarem um pouco para chegar. ELAS SEMPRE CHEGAM! Desde que você dê pelo menos um passo a cada dia em direção aos seus desejos. O importante é NUNCA PARAR! AME! a pessoa mais importante desse mundo para você...VOCÊ MESMO! é de você que tem gostar mais que de qualquer um!
Se você gostar verdadeiramente de você, saberá dar exatamente a parcela adequada a cada momento [triste ou alegre] da sua vida. Quando sofrer [isso é importante!] sofra "à vista", esse negócio de sofrer às prestações é a maior bobagem do ser humano [tem que ficar atento]. Sofra tudo de uma vez, chore, grite, passe-se por louco [ou enlouqueça de verdade se preciso], se rasgue mesmo!
Depois, faça uma "trouxa" de tudo isso e jogue no baú das inutilidades [baú do esquecimento não existe, não se iluda] e largue tudo lá, que o tempo se encarrega de misturar a tantas outras trouxas de coisas inúteis que acumulamos e depois armazenamos nesse baú no decorrer da nossa vida. Uma vez lá, é sempre mais fácil não sermos mais "influenciados" por elas, porque sabemos que coisas inúteis são perda de tempo.
Aprenda a enxergar as coisas e não apenas olhá-las, aprenda a SE! ver melhor! Saiba o momento certo de "colocar o dedo na ferida". Descubra antes se está preparado para suportar a dor. Enfrentar, nem sempre é sinal de força. Fugir pode ser mais inteligente às vezes. Mas nunca deixe o seu subconsciente te convencer de que você não pode alguma coisa, porque você PODE! E é um erro dizer que querer é poder,
porque QUERER é FAZER! Então FAÇA! Solte suas amarras! Viva como se fosse o último dia da sua vida [o que não lhe dá o direito de SE! colocar na linha de frente com as suas fraquezas] mas não perca aquela água na boca de desejo pelo amanhã. Ele é incerto, mas é provável! Entenda que nossas dores diminuem quando aprendemos a valorar a causa delas. SE OLHE E SE VEJA! Seja um rio transparente para você mesmo.
Assim você saberá a profundidade em que pode caminhar e fazer as suas próprias escolhas. Sê feliz! QUEIRA isso! Mas saiba que felicidade é estado de espírito, é como uma pluma leve que vem e vai com o balanço do vento. Sabendo disso, aprenda a fazer DEPÓSITOS DE FELICIDADE! Quando a pluma se for, você terá de onde retirar porções para suportar até que o vento vire novamente. Viver é tão simples!
VOCÊ é sim a pessoa mais importante para você mesmo! [e uma das mais para mim também] A SUA! felicidade é SUA obrigação! Felicidade irradia, contamina. CONTAMINE as pessoas! E isso é mais fácil quando se é um livro aberto. Livros fechados são difíceis de entender, porque não se pode lê-los! Sorria para você mesmo que dá certo [VÁ! corra pra frente do espelho e faça o teste! O que está fazendo aqui ainda?! Vá!]
Tudo bem, depois você faz o teste...mas faça...Abra um sorrisão para você mesmo em gratidão ao amor que você sente por você mesmo! NÃO SE LIMITE! Rompa com suas barreiras. Atraque alguns navios [isso é importante também] e não deixe que NADA e nem NINGUÉM! lhe convença de que VOCÊ não é a pessoa mais importante e especial desse mundo! Não espere o amanhã para SE! provar que se ama de verdade!
Não espere o depois [ele nem sempre chega] para dizer às pessoas oque você realmente pensa delas [seja bom ou ruim] porque pode fazê-las felizes ou ajudá-las a mudar! Não SE! engane jamais. Tire a trava dos seus olhos e descortine a você mesmo, assim você descobrirá o que realmente tem valor e o que deve ser sepultado naquele baú das inutilidades!
Coloque tudo na balança dos acontecimentos, as coisas boas e ruins, meça as porções de felicidades e de infelicidades que cada acontecimento lhe proporcionou, e as porções daquilo que não "fedeu nem cheirou" em sua vida. Depois separe-as. [já sabe onde colocar cada uma]. E comece a caminhar, sem parar. Um dia andará 10 quilômetros, em algum outro, dará apenas um passo.
Mas o importante é nunca permanecer no mesmo lugar! Entenda isso...a vida é uma mola, cabe a você decidir como irá usá-la. Ou você usa para impulsiná-lo e chegar a outras dimensões, ou usa para sempre voltar para o mesmo lugar. Você é imenso! SE! descubra! Tenho certeza que encontrará alguns "vocês" que você sequer imagina que existem! SE JOGUE!
Mergulhe na vastidão que existe em você mesmo! É prazeroso isso! Enfrente somente oque tem certeza [ou pelo menos uma possibilidade] que pode vencer! Fugir não é covardia às vezes [sendo repetitiva]. Mas uma coisa é fato: VOCÊ PODE! muito mais do que imagina e isso não é papo de livro de auto-ajuda; é fato mesmo!
Que o seu dia seja movido por essa mola propulsora de certezas e incertezas que existe dentro de você. E que ao final, você consiga folhear pelo menos mais uma página desse livro maravilhoso que é VOCÊ mesmo, o livro da SUA vida.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tudo é uma questão de GOSTO!


É que essa coisa de ser julgada pelas minhas opiniões e gostos musicais sempre me deixou irritada! Se eu gosto de sertanejo, sou caipira, brega, tenho péssimo gosto para tudo; se eu gosto de rock, sou viciada em drogas, se eu gosto de eletrônica sou patricinha e só penso em festas. Mas por que será que as pessoas [que em sua maioria que gostam de sertanejo e não assumem]batem no peito e enchem a boca para dizer EU GOSTO MESMO É DE MPB!!! DE BLUES!!! Nada contra, muito pelo contrário, eu amo MPB e Blues, apenas não consigo engolir essa hipocrisia de alguns que vivem apontando o dedo e julgando a sua personalidade pelo que você gosta de ouvir! Por que será que raramente alguém se espanta quando você expoe suas opiniões políticas ou seu posicionamento social?! Bem, é provável que a resposta seja simples [é provável não...a resposta É simples], por certo que ninguém se espanta porque não pergunta, não quer saber de suas opiniões sociais e políticas porque não saberiam julgar por algo alheio ao seu nível de intelecto [limitado]. Se tem uma coisa que me tira do sério é isso: "Credo! Você gosta de sertanejo?!", e faz aquela cara de nojo. Nossa! Isso me faz enrubescer na hora. Porque nesse momento me sinto condenada e julgada no todo pelo simples fato de gostar de algo [que muitos desses "inquisidores" gostam, mas que não tem peito para assumir!]. O que eu não aceito é hipocrisia! Gostar, fingir que não gosta, e além de tudo querer incutir na cabeça do outro virtudes [musicais] que na realidade sequer possui! Não são meus gostos musicais que definem quem eu sou ou meu papel [uma vez que nem sempre sei quem sou], mas sim minhas posições diante das situações políticas, sociais, ou qualquer outra coisa de maior relevância do que aquilo que determina o que dá prazer [ou desprazer] à minha audição! Tem gente que só tem cabeça para usar chapéu! Dai-me paciência com essa parcela de [des]entendedores dos saberes musicais e dos saberes da personalidade humana relacionado a isso! Nem Freud explica...

terça-feira, 20 de abril de 2010

O agora

A ânsia de viver é tanta, que essa insônia irritante pode ser o reflexo do medo de adormecer e não ter mais um amanhã. Por isso devoro o hoje por inteiro com garfo e faca, saboreando cada pedacinho. Prefiro ficar com essa dor na barriga do que limitar o quanto de vida posso comer no instante presente. Mas eu sou "fominha"; vou comendo o hoje com a boca cheia dágua desejando o amanhã!

Ritual


É que de repente ela entediou-se. Então levantou-se antes do sol nascer, tomou demoradamente seu último banho, lavou os cabelos, secou-os com todo cuidado, levou 40 minutos para decidir que roupa usaria. Estendeu as "eleitas" sobre a cama. Parou por um minuto. Sentou-se. Pensou. Quase deixou-se levar por um arrependimento que teimava em pulsar em seu peito. Levantou-se de sobressalto e continuou. Estendeu suas meias finas ao lado das roupas, separou seus sapatos mais altos e deixou-os ao pé da cama. Olhou fixamente a composição que escolhera e se imaginou vestida e calçada. Ainda "de toalha", olhou suas unhas [vermelhas] e escolheu seu YSL vermelho [um baton que quase nunca costumava usar], sombra cinza escuro, rímel e lápis pretos, base iluminadora, juntou tudo e levou consigo ao banheiro. Em frente aquele espelho enorme iniciou seu ritual. Lentamente fez a pele, os olhos e, por último, a boca. Seguiu para o quarto mais uma vez. Delicadamente subiu a saia cinza sobre a lingerie preta, depois vestiu a blusa também preta que ajustava-se perfeitamente em seu corpo. Sentou-se na cama, com todo cuidado calçou as meias. Levantou-se e mais uma vez fitou-se no espelho. Não gostou do cabelo. Prendeu-o. Voltou-se, calçou seus sapatos altos e pretos, levantou o tronco, ajeitou-se da forma mais esguia que conseguiu. Perfumou-se. Era o último dia que se preparava para aquele trabalho. Então observava cuidadosamente cada detalhe do que fazia. Colocou a mão sobre a fechadura, parou por 4 segundos e abriu. Caminhou com toda classe de uma verdadeira dama. Lentamente. Delicada, porém firmemente. Tomou seu café com pouca vontade e partiu. Durante o trajeto observou cada paisagem pelas quais passara tantas vezes e não vira. Ao chegar ao seu destino, olhou fixamente para cada uma das pessoas com as quais passava a maior parte de seu dia e deu um sorriso amarelo. Fez cada coisa com um cuidado diferente de todas as outras vezes. Arrumou sua mesa, limpou as gavetas, mudou suas coisas [ainda suas] de lugar. Cada gesto seu trazia um alívio de uma saudade que não iria ficar. Após as surpresas [as insuportáveis festas de despedidas]pegou suas malas [ela sempre tinha as malas prontas] e partiu com a mesma certeza que chegara. Ela nunca ficava, por essa razão, sempre deixava as malas prontas.

domingo, 18 de abril de 2010

As inquietações dele

Naquela noite, após um dia permeado por silêncios, ele sentou-se e percorreu seus pensamentos em busca das razões que o levaram alí. Enquanto ele cismava, ele fechava-se em seu mundo esperando ser invadido repentinamente por tudo que desejava saber. Lançava o olhar ao nada e torcia os lábios a cada vez que acreditava que tudo seria diferente se descobrisse o que tanto procurava. Levantou-se, percorreu alguns passos em direção à rua mas de repente recuou, olhou para sí, não sabia se vestia-se, se ia em frente, se parava. Não tinha certeza se desejava ir. Voltou. Sentou-se novamente recostado sobre as pernas e mais uma vez cismou, lançou o olhar ao nada e torceu os lábios. Fumou lentamente um cigarro e recostou-se por completo. Estava cansado. Adormeceu. Acordou saobressaltado, olhou ao redor. Não estava sozinho. Suspirou uma única vez. Aquietou-se. Acabara de encontrar suas razões.

Chegadas e Partidas


Sempre que viajo, naquelas intermináveis horas de espera nos aeroportos, observo pessoas sempre vindo, indo e certamente que virão e irão tantas outras vezes. Chegam para o natal, para as bodas dos avós, para o aniversário da mãe, para o casamento da melhor amiga; e mais uma vez, partem, para o trabalho, para a faculdade, para a outra família. Aeroportos me apertam o peito [engraçado isso] porque me fazem ver o quanto não tenho parada. Uma vida sem destino. São tantas despedidas, tantas chegadas, sorrisos, lágrimas, mas ao final, todos se vão. Breve ou lentamente, ninguém fica. Assim vou me vendo tantas vezes naquelas pessoas. Uma chegada com sorrisos [ou lágrimas, quando a saudade não cabe mais no peito]e tanta coisa coisa para contar para pouco tempo depois...partir. "E assim, chegar e partir são só dois lados da mesma viagem". Quando rompemos nosso cordão umbilical adulto nunca mais temos parada certa. É o preço da independência e da responsabilidade, que queiramos ou não, a idade sempre traz. Passamos o resto da vida fazendo e desfazendo as malas, chegando e partindo para formar esse depósito de coisas, momentos e pessoas, que denominamos LEMBRANÇAS e que contemplamos como a uma foto antiga, envelhecida pelo tempo, porém, com a mesma beleza e sentimento que nos faz prosseguir. Porque no fundo no fundo, saber que não estamos sozinhos de verdade é o que dá forças para novamente chegar e partir, num processo constante e infindável de encontros e despedidas...e assim "O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida". Não poderia encontrar descrição melhor para o que estou tentando exprimir agora.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Medos


Após juntar os pedaços e se refazer, ela só temia que o cristal se quebrasse outra vez. Então olhou para trás, pensou, suspirou três vezes mais forte e partiu. Ela não queria arriscar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Naquela tarde

...O céu nunca se fizera tão azul quanto naquela tarde. O tempo parecia parado enquanto "ela se entreolava" buscando palavras para dissipar aqueles longos segundos de silência que caiam sobre os dois. Interiormente ela se perguntava o que havia por trás daqueles olhos tão melancólicos e profundamente interrogativos. Na verdade, ela talvez não se perguntasse tanto, pois tinha medo de saber o que aqueles olhos imersos em pensamentos ocultos significavam. Não ousava a perguntar. Temia, tremia, toda vez que se sentia observada por aqueles olhos inquisidores. No fundo ela sabia que eles a conheciam verdadeiramente. Ela sabia que seus segredos não mais eram somente seus. De repente ele parava, fumava um cigarro, fitava o horizonte e voltava seus olhos pra ela como se não desejasse estar ali. O céu estava azul demais para ser observado apenas acompanhado de um cigarro e de uma sombra. E quando ela quase desistia dele, num ímpeto, ele a pegava nos braços e sem dizer palavra alguma a fazia acreditar que não existia aquela interrogação, que tudo era tão claro quanto o azul do céu daquela tarde. Após ela fazê-lo acreditar que o descobrira, mergulhava em seus pensamentos e deixa-se cair em sí mesma assim como aquele lindo céu azul daquela tarde perdia-se no horizonte para adentrar a noite, sepulcral, fria, sombria, onde ela perdia-se em seus mais sórdidos e secretos devaneios...

Lembranças

Mais uma vez ela sentiu saudades. Fora arrebatada pelas lembranças daqueles momentos que há pouco acreditara ter se perdido dentro dela mesma, e caiu em seu copioso pranto. Foi como se aquele vestido velho, guardado no "fundo do baú", voltasse a ser a mais bela tendência da moda.
E então ela chorou o seu choro sem lágrimas, e sofreu, e calou dentro dela aquele grito que latejava em seu peito...Ela não podia gritar. Depois levantou-se, olhou-se no espelho, e deixou que seu orgulho a tirasse mais uma vez do antro de submissão absoluta em que se encontrava por aquele amor. Acreditou assim, mais uma vez, que ela simplesmente não o amava mais. E aquietou-se em sua inquietação.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Nada Poético!

Mas hoje o cansaço foi, e ainda é, tanto que me impede até de pensar!
Nesses últimos dias tenho descoberto que preocupação cansa demais!
Eu só quero paz e CONSEGUIR dormir hoje...e essa "passadinha" foi apenas para "me despedir de mim mesma"...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Noite...

E eis que é chegada a hora de retirar-me da sanidade do despertar para mergulhar nos devaneios do sono...

Olhares...


...Então ele andava com a cabeça baixa, com os olhos caídos e o olhar distante, como se estivesse a procurar moedas por baixo da terra; não ousava levantar o olhar porque se sentia a mais ignóbil das criaturas....

Minha Loucura

Não são meus amores mal vividos, mas esse desassossego n'alma que me imerge nessa insanidade...