À vontade...o prazer é nosso!

... Afinal, na vida só há espaços verdadeiros para cores, dores, amores...e muitos devaneios.































































terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"Tempos Modernos"


...e como dormia e acordava sempre na mesma hora, fazia sempre as mesmas coisas, e observava diariamente aquela mesma paisagem, chegou a acreditar que possivelmente também estava feliz.
...Nem a rotina desgastante e de tarefas inúteis a incomodavam mais. Era sua transformação que começava a acontecer, e sem os mesmos repentes de uma alma que se sentia tão aprisionada outrora.
...Depois de passar a maior parte da vida fugindo do esteriótipo conformista e regular das pessoas, ela percebeu que não era mais diferente, que acabara de juntar-se à multidão de seres milimetricamente iguais em sonhos e atitudes...e descobriu que a repetição dos dias sempre iguais haviam lhe deixado igual também.
...A única coisa que ainda a diferia era aquela máscara imponente que ela teimava em manter...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Segurança...


...é que de repente ela percebeu que havia aprisionado a si mesma naquele porto, que havia recolhido as velas e atracado por tempo indeterminado.
Antes, estava tão cansada que não percebeu que suas paisagens iam ficando sem cor, seus mares sem ondas e sua vida sem emoção.
De repente se sentiu segura, acordou, virou para o lado e se deu conta de que mais uma vez não precisava se levantar, que não importava se fosse meio dia ou meia noite, que estava se perdendo no dia do mês, da semana e que isso não fazia a menor diferença.
Sobressaltou-se admirada de como o tempo havia passado tão depressa e nada havia mudado em sua vida durante todos aqueles meses...
Pensou na segurança, na previsibilidade dos mares calmos, do porto seguro.
Tentou se convencer de que estava feliz...olhou mais uma vez ao redor...ouviu o silêncio do tempo, da vida sossegada, e redescobriu que o que movia seus sonhos e enchia sua vida de encanto não era a segurança diária, a cama aconchegante, a mesa posta, o abraço certo, os beijos repetidos...pois queria ser princesa, queria ser plebeia, queria ser escrava ou rainha...desde que seus castelos sempre fossem de areia...ou que fossem construídos pouco antes da curva da estrada...
O inesperado, o novo, a ânsia de viver um dia esperando a diferença do outro...era isso que mais lhe fazia falta na monotonia daqueles dias sempre tão iguais...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ahhh...Antes Fosse Preconceito...


Em razão da pouca idade ela não conhecia muito das coisas do mundo. As mazelas que assolavam sua própria vida desde a infância ainda traziam aquela feiura escondida atrás da grande máscara da ilusão, à época, ainda tão inocente.
Quando seus monstros a assaltavam no meio da noite, tinha o hábito de cobrir a cabeça e acreditar que alí estaria sempre segura.
Certa vez, não conseguira dormir a noite, pois os rugidos da cama no quarto ao lado a assustavam em demasia, uma vez que aquele a quem ela desejava [em vão] admirar estava prestes a tirar-lhe o último fio de esperança e cravar-lhe uma vergonha eterna n'alma.
Assim que amanheceu, levantou-se devagar e recostou-se na parede da casa velha, comida pelas traças e de chão batido.
As paredes de madeira não se juntavam direito e em alguns lugares podia-se ver os outros cômodos pelos vãos que existiam na arquitetura feita com poucos recursos e ainda menos capricho.
Foi quando ela ouviu novamente o estalar da cama, seguido por gemidos constantes de vozes grossas e empastadas.
Ela bem que tentou, mas não conseguiu relutar contra a ânsia que a impulsionava a olhar pelas "frestas" e ter certeza da verdade que ela ignorou por todos os poucos, porém difíceis, anos de sua vida.
Ele estava de joelhos, completamente nú, e seu semblante trazia uma risada maliciosa e estridente enquanto seu corpo esfregava-se em outro de igual porte.
...Foi a cena mais repugnante e assustadora que ela presenciara até os dias de hoje...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Minguando


Essa repetitividade da vida muito me cansa.
Fazer e refazer sempre as mesmas coisas me torna pássaro sem asas.
Tenho notado que a vista diária e contínua da mesma janela tem me deixado um tanto quanto bestilizada.
...era o que eu mais temia.

domingo, 27 de março de 2011

Divagando


Outro dia comentei que gostava dessa beleza triste que notava em algumas coisas e pessoas. "Taí" algo que sempre me fascinou.
Gosto das tardes silenciosas, com céu avermelhado e o reflexo do peso do mundo caindo no horizonte.
Felicidade em demasia tira a inspiração das pessoas, as torna comuns demais, e a consequência é deixá-las sem graça, sem brilho.
Pior ainda são aquelas que não há como saber se são tristes ou felizes [às vezes me pego nessa situação] e isso é quase que lamentável.
Tenho medo [é...eu também tenho meus medos!] que os meus desejos se percam em meio a meus tantos devaneios [muitos constantemente imersos dentro de mim mesma], pois essa brevidade da vida da gente, nem sempre nos deixa perceber que não somos eternos. Se bem que eternidade seria completamente sem graça. Viver sabendo-se que tempo não é problema, que tudo poderia ser feito e desfeito; isso tiraria a beleza triste e fugaz que move a nossa vida.
Não posso dizer ao certo se é a vida, as pessoas, que trazem em si aquela tristeza sublime que as deixa mais interessantes, ou se essa beleza triste que tanto me fascina é mais um desvario dos meus olhos que espelham as loucuras da minha alma.

A Espera


Ela havia passado o dia todo o esperando.
Seu coração saltitava só de imaginá-lo abrindo aquele sorriso largo que a deixava absurdamente feliz...
As horas se arrastavam naquela espera angustiante que quase a fazia desfalecer ali parada, com os olhos fitos no portão e os ouvidos atentos ao barulho dos carros que se aproximavam.
As vezes ela se deixava imergir em alguns pensamentos soltos que traziam o perfume dele através do vento, e então ela suspirava uma vez mais e deixava escapar um risinho tímido no canto esquerdo da boca trêmula...
Mas depois da angústia louca por que passara seu coração, ela o viu chegar com o sorriso que ela tanto amava; o mesmo que lhe fez ancorar pela última vez em uma viagem sem volta.
Caminhando em direção a ele, lhe deu um abraço lento e apertado, um beijo calmo e silencioso e aquietou seu coração nos braços daquele que a fez desejar nunca mais partir.

A Primeira Decepção


Depois que decidiu aportar seus navios, sua vida andava pacata, porém, ela parecia estar realmente feliz.
Às vezes a lembrança de seus tantos caminhos a tomava nos braços, mas seu peito sufocava a falta que suas eternas viagens lhe fazia.
Aquele despertar de todas as manhãs no mesmo horário lhe deixava abatida, triste em algumas situações, mas ela passou a acreditar que a rotina era indispensável para uma vida verdadeiramente completa, e assim ela aquietava suas ânsias que teimavam sempre em voltar.
Mas ela não esperava que a primeira mentira chegasse naquela noite, pois caso imaginasse, teria se preparado [fugindo talvez]. E a surpresa foi tamanha que ela sentia os terríveis golpes açoitar seu coração e via sua alma prantear silenciosamente naquele abismo que se formava entre ela e todos os sonhos que havia deixado pelo caminho.
...Era a sua primeira decepção...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"Dona de Casa"


Ela sequer imaginou que um dia fosse gostar de esfregar o chão e lavar sapatos...Creio que ela não poderia gostar de algo que jamais aconteceria, por isso não imaginou!!! Mas ele foi tão sorrateiro quando tirou os "saltos" dela, que ela nem se deu conta de que fazia isso todos os dias com um sorriso largo nos lábios...mesmo descascando seu esmalte e sem escovar os cabelos...Era a vida de casada...CASADA????????!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Inconstâncias


É que de repente ela descobriu que o amava tanto que muitas vezes chorou em silêncio para sufocar sua alma cigana que ansiava por novos rumos...Ela não era uma só, era muitas, e essas tantas a faziam viver naquela inconstância de desejos e emoções...Mas sua única certeza é que nunca havia sido tão feliz e por isso mesmo teimava frente a todas em ficar...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Regresso Indesejado


Depois de muitos anos ele a reencontrou...
Ao chegar em casa ela o olhou assustada e triste ao mesmo tempo.
Os cabelos estavam totalmente embranquecidos pelo tempo, as orelhas pareciam ainda maiores e o semblante, aparentemente, era menos desprezível do que da última vez em que ela o vira.
Ela o abraçou em silêncio e sufocou todo o medo que as lembranças do passado lhe traziam naquele momento.
Nos primeiros dias ela quase acreditou que ele havia mudado, e aquela expressão de bondade que ele trazia na face envelhecida dava a impressão de que ele mesmo acreditava que nunca acontecera nada, que durante todo o tempo em que ele esteve por perto sempre fez tudo certo, pois a voz era suave, era o último a sentar-se à mesa e não pedia nada, servindo-se apenas do que lhe era oferecido.
Mas não tardou para que as cortinas daquele engano se rasgassem diante dela. E de repente ela percebeu que ele continuava exatamente o mesmo, que o tempo havia apenas lhe aprimorado a capacidade de enganá-la e a quem quer que lhe fosse conveniente.
A voz alterada quando ele se dirigia a ela a fazia estremecer e recordar de todas as humilhações e as surras que muitas vezes lhe arrancavam sangue e a deixavam dias a fio sem poder expor qualquer parte do corpo.
Ninguém entendia por que ela se calava, por que não reagia, mesmo depois de tantos anos.
...E pelos muitos dias em que ele ficou por perto, ela suportou mais uma vez tudo que ela mais temeu durante toda sua vida, em silêncio, resignada em sua dor...até que numa tarde fria e chuvosa de outono ele partiu, com a cabeça erguida, um sorriso nos lábios e o mesmo tom insuportavelmente irônico em sua voz estridente e arrogante...e enquanto ele desaparecia na longa estrada ela o olhava pelas costas com um grande alívio e desejosa de que ele nunca mais voltasse...