À vontade...o prazer é nosso!

... Afinal, na vida só há espaços verdadeiros para cores, dores, amores...e muitos devaneios.































































quarta-feira, 19 de maio de 2010

Barco à deriva


Naquela manhã fria e chuvosa de inverno ela percebeu que alguma coisa não estava certa. O vento estava gelado, o tempo quase se arrastando. Com os olhos baixos, buscou todas as viagens que fizera em seus tantos navios. Ela tinha muitos navios. Em suas viagens conheceu muitos lugares. Em sua maioria, paradisíacos. Algumas vezes nem tanto. Avistou desertos "além-mar". Mergulhou em ilhas deslumbrantes. Contemplou céus de belezas quase irreais. E quando cansava-se de um de seus navios, saltava para outro em pleno mar. E se entediava-se de novo, mais uma vez trocava, para seguir viagem em outro navio mais veloz. Às vezes sentia-se tão livre e segura que acreditava que poderia permanecer em determinado navio pelo resto da viagem. Mas depois, bastava um vento leve, que sequer derrubava suas velas, para novamente saltar para outro que julgava mais seguro. Algumas vezes sequer esperava o vento chegar, pois o medo de que viria bastava para que ela navegasse em nova morada. Assim ela desbravou muitos mares. Viu o sol se por e a lua nascer dos ângulos mais diversos que se pode imaginar. E havia dias em que ela trocava de navio tantas vezes quantas se entediava. Nesses dias podia ver quão grande estava sua frota, uma vez que suas trocas eram rápidas o bastante, que o mar não tinha tempo de apartar um navio do outro. Outras vezes, navegava tanto sem trocas que quando olhava ao redor havia poucas escolhas a fazer. Por isso, muitas vezes ela voltou para alguns dos navios com os quais já havia navegado em outras ocasiões. Ela fazia muitas viagens. Sua vida inteira havia sido um viagem. Ela avistou ao longe muitos portos seguros, mas nunca conseguiu navegar até lá. Então naquela manhã fria e chuvosa de inverno ela se deu conta de que quando vinha a tempestade ela nao tinha um cais para atracar. E percebeu que ela mesma era um barco triste e solitário à deriva. Mesmo com todos os navios que julgava possuir.

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