À vontade...o prazer é nosso!

... Afinal, na vida só há espaços verdadeiros para cores, dores, amores...e muitos devaneios.































































terça-feira, 20 de abril de 2010

Ritual


É que de repente ela entediou-se. Então levantou-se antes do sol nascer, tomou demoradamente seu último banho, lavou os cabelos, secou-os com todo cuidado, levou 40 minutos para decidir que roupa usaria. Estendeu as "eleitas" sobre a cama. Parou por um minuto. Sentou-se. Pensou. Quase deixou-se levar por um arrependimento que teimava em pulsar em seu peito. Levantou-se de sobressalto e continuou. Estendeu suas meias finas ao lado das roupas, separou seus sapatos mais altos e deixou-os ao pé da cama. Olhou fixamente a composição que escolhera e se imaginou vestida e calçada. Ainda "de toalha", olhou suas unhas [vermelhas] e escolheu seu YSL vermelho [um baton que quase nunca costumava usar], sombra cinza escuro, rímel e lápis pretos, base iluminadora, juntou tudo e levou consigo ao banheiro. Em frente aquele espelho enorme iniciou seu ritual. Lentamente fez a pele, os olhos e, por último, a boca. Seguiu para o quarto mais uma vez. Delicadamente subiu a saia cinza sobre a lingerie preta, depois vestiu a blusa também preta que ajustava-se perfeitamente em seu corpo. Sentou-se na cama, com todo cuidado calçou as meias. Levantou-se e mais uma vez fitou-se no espelho. Não gostou do cabelo. Prendeu-o. Voltou-se, calçou seus sapatos altos e pretos, levantou o tronco, ajeitou-se da forma mais esguia que conseguiu. Perfumou-se. Era o último dia que se preparava para aquele trabalho. Então observava cuidadosamente cada detalhe do que fazia. Colocou a mão sobre a fechadura, parou por 4 segundos e abriu. Caminhou com toda classe de uma verdadeira dama. Lentamente. Delicada, porém firmemente. Tomou seu café com pouca vontade e partiu. Durante o trajeto observou cada paisagem pelas quais passara tantas vezes e não vira. Ao chegar ao seu destino, olhou fixamente para cada uma das pessoas com as quais passava a maior parte de seu dia e deu um sorriso amarelo. Fez cada coisa com um cuidado diferente de todas as outras vezes. Arrumou sua mesa, limpou as gavetas, mudou suas coisas [ainda suas] de lugar. Cada gesto seu trazia um alívio de uma saudade que não iria ficar. Após as surpresas [as insuportáveis festas de despedidas]pegou suas malas [ela sempre tinha as malas prontas] e partiu com a mesma certeza que chegara. Ela nunca ficava, por essa razão, sempre deixava as malas prontas.

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